É possível argumentar biblicamente que não chovia antes do dilúvio de Noé, embora essa seja uma interpretação e não uma declaração explícita e incontestável na Bíblia. Os principais argumentos vêm do livro de Gênesis:
Gênesis 2:5-6: Este é o texto central para essa interpretação. Ele descreve a Terra em um estágio inicial da criação:
"Ora, ainda não havia arbusto algum do campo sobre a terra, e nenhuma erva do campo tinha ainda brotado; porque o SENHOR Deus não fizera chover sobre a terra, e também não havia homem para lavrar o solo. Mas uma neblina [ou vapor, ou manancial, dependendo da tradução] subia da terra e regava toda a superfície do solo." (Gênesis 2:5-6 - ARA)
Interpretação: Aqueles que defendem a ausência de chuva antes do dilúvio argumentam que este sistema de irrigação (neblina/vapor/manancial que subia da terra) foi o método padrão de Deus para regar a vegetação durante todo o período antediluviano (antes do dilúvio). A menção específica de que Deus "não fizera chover" naquele ponto inicial é extrapolada para significar que a chuva como a conhecemos não existia até o dilúvio.
O Início do Dilúvio (Gênesis 7:4, 11-12): A descrição do dilúvio enfatiza o início da chuva de forma dramática:
"Porque, passados ainda sete dias, farei chover sobre a terra quarenta dias e quarenta noites..." (Gênesis 7:4)
"...nesse dia, romperam-se todas as fontes do grande abismo, e as comportas [ou janelas] dos céus se abriram, e houve chuva sobre a terra quarenta dias e quarenta noites." (Gênesis 7:11b-12)
Interpretação: A forma como a chuva do dilúvio é introduzida ("farei chover", "comportas dos céus se abriram") pode ser interpretada como o início desse fenômeno na Terra, sendo algo novo e catastrófico.
O Arco-Íris como Sinal (Gênesis 9:12-17): Após o dilúvio, Deus estabelece o arco-íris como sinal da sua aliança de que nunca mais destruiria a Terra com água.
Interpretação: Alguns argumentam que, se chovesse antes do dilúvio, arco-íris já teriam ocorrido naturalmente (pois são um fenômeno óptico causado pela refração da luz solar em gotas de água). Portanto, para que o arco-íris fosse um sinal novo e significativo dado por Deus naquele momento, a chuva (e consequentemente os arco-íris) não deveria existir antes.
Contrapontos e Considerações:
Gênesis 2:5-6 é Descritivo do Início: Outros intérpretes argumentam que Gênesis 2:5-6 descreve apenas as condições no início da criação, antes que as plantas se estabelecessem completamente e antes do homem cultivar a terra, e não necessariamente as condições de todo o período pré-diluviano. A chuva poderia ter começado depois, mas antes do dilúvio.
Dilúvio como Chuva Excepcional: A descrição em Gênesis 7 pode ser vista como o início de uma chuva catastrófica e sem precedentes, vinda não só da atmosfera ("comportas dos céus") mas também de fontes subterrâneas ("fontes do grande abismo"), e não necessariamente a primeira chuva da história.
Significado do Arco-Íris: O arco-íris poderia ser um fenômeno natural já existente, ao qual Deus atribuiu um novo significado como sinal de sua aliança. Fenômenos naturais podem receber significados pactuais (como o pão e o vinho na Ceia do Senhor).
Falta de Declaração Explícita: A Bíblia não afirma categoricamente "não choveu antes do dilúvio". Essa é uma inferência baseada nos textos citados.
Conclusão:
É possível construir um argumento bíblico para a ausência de chuva antes do dilúvio, baseando-se principalmente em Gênesis 2:5-6 e secundariamente na narrativa do dilúvio e no sinal do arco-íris. No entanto, essa é uma interpretação teológica e não um fato explicitamente declarado nas Escrituras, havendo também argumentos e interpretações contrárias.